sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Cada um na sua..."

"Ahn? O que? Ah não, eu sou ateu..." respondi .


Acho que se eu tivesse batido na mãe do cara ele ainda não teria feito uma cara como a que fez, que se seguiu da clássica: "Mas você não acredita em naaaaada?!?" no que eu desanimado por começar essa discussão que eu sei não levaria a nada simplifiquei: "Não, velho. Só não acretido no deus cristão e nem em qualquer outro e..." no que fui prontamente interrompido com a não menos esperada: "Mas só existe um deus...".

Naquele momento, olhei pro camarada a meu lado, virei os olhos e disse: "O que te fizer dormir melhor. De qualquer forma, eu não me preocupo sobre isso e não me faz falta...". Isso bastou para que começasse um monólogo de 20min sobre tudo que um evangélico militante gosta de pregar a um pré-condenado ao mármore do inferno.

Aprendi desde cedo que na polícia você não diz que é ateu pra qualquer um. Até hoje esbarrei em outros dois ou três ateus dentro da corporação por mero acaso. O ideal é engolir a religiosidade alheia e manter uma posição neutra, resumindo suas respostas a "Eu não discuto religião." ou "Sou maçom." (Isso costuma assustar qualquer pregador de perto de você.). Mas nunca, jamais diga que é ateu a qualquer estranho. Alguns não encaram isso nada bem e podem até mesmo vir pra cima se a discussão ficar mais profunda ou tentar te prejudicar de alguma maneira no trabalho, te isolando do grupo, por exemplo.

Eu particularmente não sou um ateu filosófico daqueles que buscam argumentos irrefutáveis para debates de horas sobre contradições e impossibilidades da existência de qualquer deus (sim, acredite, cada religião tem o(s) seu(s) e eles defendem a existência de seus respectivos amigos imaginários com fúria algumas vezes.). Eu me resumo a não acreditar que exista um deus porque nunca tive experiência que me mostrasse o contrário e a ciência faz um trabalho competente em demonstrar a cada dia que o Universo e a existência não são bichos de sete cabeças que só poderiam existir através de mágica. Essa é claro, é minha posição sobre o assunto e como não existe um cursinho para se tornar ateu (nós não lemos Nietzche pra passar em alguma prova de ateu).

Meus amigos, os que confio profundamente, até me animam a discussões mais profundas e com algum uso de filosofia, mas como ambos os lados conhecem a posição alheia, não insistimos muito e sempre acaba por isso mesmo. Tanto existe esse respeito que um dos meus melhores amigos é evangélico praticante e sempre nos demos bem, ignorando esse assunto que em países desenvolvidos é algo estritamente íntimo e particular e que não é bradado aos berros e sinais como alguns jogadores de uma certa nação fizeram recentemente ao vencer um certo campeonato.

Entretanto, caso você trabalhe ou conviva com pessoas extremamente religiosas (como eu convivo e trabalho), seguem algumas dicas de sobrevivência a pergunta: "Qual sua religião?"


- "Não converso sobre isso no trabalho.". Costuma funcionar com a maioria das pessoas. Caso o cara seja um chato, passe para as opções seguintes...

- "Sou..."(diga a religião mais bizarra ou melhor ainda, invente uma, assim você poderá criar regras e contradize-las a bel prazer e se por acaso alguém disser que é um absurdo, você poder ir pra defensiva com: "Você está chamando minha fé de ridícula?!?". Isso pode tanto calar o sujeito que não irá querer passar por intolerante quanto também poderá te dar tiro-livre sobre o interlocutor até que a turma do "deixa disso" chegue antes de vocês irem pras vias de fato.

- "Faz diferença?" (Essa é destinada ao desarme máximo. A resposta do cara pode te dar o tiro final: "Acho superficial alguém querer julgar o caráter ou a personalidade de alguém baseado em algo tão íntimo e pessoal como religião?")

- "Agnóstico/Católico não praticante.". Boa parte das pessoas pensa que são a mesma coisa.

- "Sou discípilo de INRI Cristo. Tá rindo de que? Tá querendo dizer que meu deus é uma farsa?!?! HEREGE!!!!"

Enfim, o ideal seria que as pessoas mantivessem esse tipo de assunto para o círculo familiar ou pessoal delas. Se elas não estão dispostas a entender que pessoas diferentes, pensam de forma diferente, não deveriam chatear os outros com perguntas que objetivam uma pregação sem fim para depois o cara ir dar o testemunho dele na igreja e/ou templo.

Mas não vivemos em um mundo ideal, então é melhor se preparar para essa situação porque ela vai ocorrer quase que com certeza em algum momento.

1 comentários:

  1. Onde eu trabalho existem dois grupos bem definidos: um de religiosos e outro de agnósticos/ateus. E, é claro, o grupinho tradicional de católicos que não mexe com ninguém.

    O mais engraçado é que o grupo que mais chama a conversa pra esse assunto é o dos céticos - mas pra conversar um com o outro, falar de ciência, física. Religião acaba caindo no meio da conversa. E aí, normalmente, os religiosos fazem uma ou outra pergunta e saem de cabeça baixa depois de algum tempo.

    É estranho porque de umas 20 pessoas, deve haver uns 4 religiosos fervorosos e 4 céticos. É um número bem grande considerando a proporção 'normal' da população.

    Achei que ia ficar sempre de boa por conta disso, mas um dia fiquei em minoria e fui 'cercado' pelos evangélicos e católicos por defender casamento gay & adoção de crianças por casais gays. Até me saí muito bem, considerando que era eu contra um grupo de quatro ou cinco pessoas (que, com certeza, eram todas muito menos informadas sobre o assunto).

    Foi divertido.

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